domingo, 16 de abril de 2017

A Importância da Contação de História para a Aprendizagem

    Não somente pela antiguidade que representa a importância da contação de histórias que sempre se deu como fator de crucial importância cultural e social na história. Quando a oralidade era predominante a contação de histórias era a central ferramenta de transmissão de conhecimentos e cultura através dos mais velhos considerados mais sábios e responsáveis por este aprendizado.
    Doravante a contação de história atestadamente apresenta valores de importância na aprendizagem e educação hoje mais do que nunca. Eficiente alternativa para a aprendizagem significativa. Poderosa ferramenta de incentivo à leitura e escrita ante o evidente déficit do docente por questões de hábito e autonomia a leitura oral de histórias em sala de aula fomenta melhor facilidade na realização de tarefas propostas em sala de aula. Estudos fomenta que esse déficit, no entanto, se dá pelo fato da dificuldade de leitura e escrita autônomas de modo a não decodificar, mas sim compreender. Assim a contação de histórias toma esse papel que originalmente é deficiente ao aluno de modo a servir como instrumento de ensino que alimente o gosto pela leitura e consequentemente a escrita tornando o discente em sujeito crítico atuante por meios das criações e fantasias propostas na história.
    Se antes a contação de histórias era exclusividade da oralidade dos antigos que muitas vezes não possuíam escrita, fato correlato na pré-história, hoje sua importância transcende a si mesma à escrita e leitura.
    Todavia destacasse a diferença entre ler uma história e conta-la o qual a última envolve uma série de práticas cênicas que aproximem o contador das circunstâncias criadas pela imaginação fomentando o mesmo aos alunos. Isto possibilita o crescimento criativo na compreensão da criança além de fomentar melhor gosto pelas letras em sua leitura ou mesmo na escrita. Ao docente o hábito de escutar as histórias narradas se torna uma prática muito mais que passiva, mas um ensinamento a um leitor ativo.
    A contação de histórias cria esse gosto por dois fatores, a curiosidade e o exemplo provocando igualmente o prazer na criança que como ouvinte desenvolve melhor a imaginação com amor e beleza pela ampliação do poder de observação ao estabelecer uma ligação entre realidade e fantasia como paralelos. Ou seja, melhor desenvolve a capacidade de estabelecer uma leitura das entrelinhas.
    Há somente benefícios que qualificam a importância da contação de histórias como desenvolver melhor capacidade de sequenciamento lógico de fatos e sentido de ordem, assim como esclarecimento ampliando o vocabulário pelo gosto literário desenvolvido pelo estímulo pela leitura em sua linguagem oral e escrita.
    São inúmeros os benefícios da contação de história na vida do docente, até mesmo para o discente há benefícios evidentes. Poderíamos inúmeras a lista desses benefícios tão importantes da contação de história como melhorar a atenção do aluno, fomentando melhor o contato com seu mundo atual em que vive incentivando a reflexão assim como a experimentar e testemunhar esse mundo construindo sua própria subjetividade com a ampliação de sua visão de mundo.
    A identificação do aluno com as histórias narradas, sobretudo, permite com que a experiência individual dos alunos cria vínculos de relação entre a fantasia proposta e sua realidade vivenciada de modo a dar maior realismo a contação de histórias quando utilizada em todo seu potencial. Isso torna melhor a capacidade do aluno de superar dificuldades como conflitos e medos favorecendo assim o amadurecimento numa fase em que a imaturidade é comum inclusive para enfrentar tais conflitos e medos. Assim melhor se torna apta para lidar com situações complexas que surgem no dia a dia.
    Na época de brincadeiras a contação de histórias se torna um incentivo ao mesmo ao promover o estímulo a desenhar e imaginar e por meio de similar estimulo as emoções e sentimentos como a tristeza, alegria, insegurança e bem-estar tornar melhor a inteligência emocional ao fomentar melhor o autocontrole e o amadurecimento sentimental da criança de modo que elas aprendem melhor a lidar com seus próprios sentimentos.
    Por fim o elo imaginário concebido pelo contador de história com o aluno é um vínculo criado entre o livro e o leitor por meio da imaginação de modo a contribuir melhor a aquisição da linguagem assim como o estimulo a observação aprimorando melhor a maneira da criança expressar-se em suas ideias e sentimentos de modo a desenvolver melhor a capacidade cognitiva do docente através do instrumento que é o livro ao transmitir assim muito mais que apenas informações, mas as ferramentas adequadas todos esses benefícios ao aluno.
    A contação de história sobretudo pode ser exercida não somente pelo docente em sala de aula, mas pelos pais da criança em seu próprio convívio a exemplo das tradicionais contações de história a crianças pouco antes de dormir. Em todos os casos independente do momento em que tal pratica é exercida ela ajuda melhor a transmitir valores e morais pertinentes a forma de conduta do aluno no dia a dia, em sociedade de maneira a tornar as raízes da verdadeira cidadania responsável.
       A forma considerável ideal seria que o docente trabalhasse a contação de histórias de forma lúdica, atraindo seus ouvintes que se dispersam a todo instante, para que não os enfade. 
       É necessário que o docente tenha uma boa entonação de voz, uma postura correta, que conheça muito bem a história e adapta-la ao vocabulário da criança, recriando com criatividade, sem perder a essência do seu encanto.
      Na contação podemos transmitir valores, ética, amor e respeito ao próximo, e também a socialização entre companheiros de classe. Ela também propicia a inteligência, a sensibilidade, e a forma crítica de se universo. Podendo proporcionar um equilíbrio emocional.
      A leitura compartilhada é um importante recurso, que prevê o intercâmbio de ideias, com conversas e diálogos entre professor e alunos, ouvindo a compreensão dos colegas, ajuda o aluno a buscar sentido, entender melhor o conteúdo e ampliar sua própria interpretação sobre a leitura.
      A contação de histórias é um mediador no processo de alfabetização e letramento nas séries inicias.
      
Formas que o docente pode trabalhar a contação de históriaPode-se trabalhar pedindo a criança para confeccionar sucatas ou até personagens, aumentando o leque de conhecimentos em torno da contação.
    Podemos trabalhar também com deboches, fantoches, livros, slides, diversos estímulos visuais, brinquedos, rodas, espaço favorável e inspirador, materiais sonoros, flanelógrafos, caixinhas, máscaras, fantasias e tudo o que a imaginação achar melhor.
         
O contador deve observar:      Local, luminosidade, atenção das crianças, todo cenário e o desfecho.

Autores: Gerson Machado de Avillez e Thais Oliveira

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Paulo Freire Repensado

O opressor não deseja educar o oprimido, mas apenas o condicionar pela sua animalização, pois o aprendizado está acima do limiar dos instintos que condicionam, o aprendizado desperta na consciência o senso crítico e questionador quando o almejado pelas elites é um coletivismo de massa acrítica. O caminho do condicionamento é oposto ao do autoconhecimento, é deter o indivíduo ao comportamento de massa em detrimento do ambiente do lugar que assim como nas selvas não transmite conhecimento e inteligência aos animais, mas apenas um 'comportamento de condição instintiva'. Esse se torna o caminho mais curto a uma ineptocracia que somente pode ser vencida pela vocação desperta da individualidade. A aplicação de testes vocacionais, por exemplo, torna possível conduzir esse indivíduo a realização do que melhor é capaz de fazer, e despertar a aptidão favorece a vocação o qual cada área de carência na sociedade pode ser preenchida livremente ao contrário do trabalho tido como sua versão retrógrada de castigo, fomentando uma ‘aptocracia’ onde a satisfação das massas será consequente.

Ao contrário de testes de QI que pouca utilidade tem a sociedade a não ser como ostentação a elitização, não demonstra quaisquer praticidades a sociedade dando margem a segregação por tipos restritos de intelecto - não de modo abrangente - e que muitas vezes são inúteis pois não representa necessariamente nenhuma vocação. Valorizar a vocação, recompensa-la, premia-la e paga-la é combater a ineptocracia que faz seu oposto, somente sociedades cujas massas acríticas são embebidas de violência não produzem gênios, artistas e cientistas como um padrão, pois estes são frutos de uma sociedade realmente primorosamente evoluída e civilizada.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Resenha: Pedagogia do Oprimido

"Não há história sem homens, como não há uma história para homens, mas uma história de homens que, feita por eles, também os faz, como disse Marx."
P.175

Paulo Freire tinha a óbvia intenção de expandir a consciência com resiliência dos segregados que viviam resignados numa exclusão que destituía estes de sua importância e valores. A obra 'Pedagogia do Oprimido' trás a máxima expressão dessa justa luta por tornar o homem a sua essência, livre e verdadeira. Assim a ideia da Consciência Máxima possível de Lucien Goldmann seria uma consciência capaz de transcender sua realidade social de forma crítica através de sua problematização sistêmica o qual Freire refere-se como 'descodificação'. Naturalmente que isso antecipa em anos a filosofia de uma matrix o qual realidades estão sobrepostas ainda que num nível socioeconômico.

"Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão."
P.108

A consciência primeira seria auto limitante a sua própria realidade, ou seja, num nível essencialmente pragmático, voltado a mera necessidade. Deste modo a natureza dessa realidade parece não atender muitos aspectos da pirâmide de Smarllow assim como ser mais semelhante a "consciência" de um animal, que de um ser humano.

Paulo Freire observa que mesmo o analfabeto não é uma 'tábula rasa' como Locke postulou, mas um sujeito com conhecimentos necessários para a decodificação de sua realidade, quer seja por sua oralidade ou escrita. As informações necessárias a despertar seu senso crítico estão presentes independente do nível de instrução sendo necessário apenas problematiza-las para efetuar esta decodificação.

Freire, sobretudo observa como mecanismos diametralmente opostos aos proposto por ele são utilizados como forma de manter o poder opressor das classes dominantes, das divisões, quer por arbitrariedades de trato em exceções que tornam-se regra ou pela utilização de mitos que pelo senso comum perpetuam ideias falsas sobre o poder vigente. Sobretudo a dispersão do conhecimento pela educação sempre deve seguir uma razão de não imparcialidade mascarando ambos os lados em suas condições, quer oprimidos ou opressores. A isenção nunca será preterida pelos opressores.

"Para criar um escravo satisfeito, é necessário cria-lo estúpido. É necessário obscurecer sua visão moral e intelectual, e, na medida do possível, aniquilar o poder da razão."
Frederick Bailey

Particularmente derivo disto que a lei em si não deve ser demasiadamente rigorosa se o rigor em imparcialidade estiver em sua aplicação. O rigor assim deve focar-se no poder executivo e jurídico, não no legislativo pois convém a exceção ser arbitrariedades e mácula de poderes autoritários e(ou) ilegítimos.
Ao poder opressor convém utilizar-se dos mitos (assim como a fantasia) como um modo de atrelar o ethos aos instintos, assim deve acompanhar a ignorância em suas muitas formas como modo de impedir um senso crítico assim como a imparcialidade não preterível aos opressores. Freire nota também a razão do diálogo que a medida que deve ser imprescritível numa revolução ela não é preterível entre opressores e oprimidos.

Quando a educação não é libertadora, apenas adestra-se num continuado sacrifício o qual nos fazem escravos dos erros. Animalizar, para que sejamos escravos do ambiente e de nossos próprios instintos. A irracionalização do homem é o mais eficaz método contra sua liberdade num estado de não consciência, do não pensar reflexivo.

Para que a opressão possa triunfar é preciso inferiorizar a essência humana - mesmo de modo ofensivo e calunioso ou por violência - afim de sobrepor de maneira a realçar uma falsa superioridade em detrimento do mesmo. Não se trata apenas de neutralizar, mas de negativizar tornando-o em objeto passivamente receptor a incapacitando em sua potência em todos sentidos, mantendo a eterna condição de depedência e divida.

"Desconfiar dos homens oprimidos, não é, propriamente, desconfiar deles enquanto homens, mas desconfiar do opressor 'hospedado' neles."
P.320

Pedagogia do Oprimido  - Paulo Freire - Editora Paz e Terra - 2013

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Resenha: Ascenção e Queda dos Maias

Abaixo a resenha da resportagem da revista Nacional Geographic Ascenção e Queda dos Maias, lembrando que a formatação original fora alterada para se adequar ao blog.

Professor: Raphael Brum
Pedagogia – Sexto Período (Tarde)
Aluno: Gerson Machado de Avillez

Fogo Novo se tornou um marco para a civilização Maia onde hoje é o México. De acordo com antigas inscrições o evento de sua chegada remete ao longínquo 8 de janeiro de 378, mais precisamente em Waka, na atual Guatemala, e tão logo Fogo Novo se tornou peça chave de toda transformação ocorrida no mundo Maia do período arrastando consigo uma série de mudanças significativas ao passo da igual explosão populacional da região unindo a região que antes era feita de povoados fragmentados. Usou assim da diplomacia tanto como da força para estender os domínios forjando alianças e ampliando sua influência.
    Um povo violento o qual inúmeras guerras sucederam com matança até mesmo dos nobres de seu tempo onde até mesmo reis eram entregues a sacrifícios humanos a mando de Fogo Novo. Foram construídos na época palácios e templos que se erguiam a quase 100 metros de altura enquanto seus calendários eram os mais precisos do mundo antigo. Exímios observadores das estrelas eram capazes de prever eclipses o qual tornavam possíveis não somente a construção precisa de um calendário mas de fazer ajustes semelhantes ao dos anos bissexos. Haviam portos como o de Waka no rio San Pedro que era excelente para guardar canoas e outras embarcações menores.
    Seu comércio se estendia por uma extensa faixa territorial do sul do México ao litoral caribenho de Honduras. Os soberanos por sua vez, eram os senhores sagrados o qual conferia o poder de julgar questões religiosas e ideológicas sendo o xamã e governantes de seus súditos na guerra ou na paz. Porém, após a morte de Grande Pata de Jaguar todas as pretensões pacíficas de Fogo Novo. Morto supostamente pelos agressivos e violentos vencedores Grande Pata de Jaguar teria sido registrado na Estela 31 de Tikal. Fogo Novo assim desempenhava um papel de governador militar ampliando sua esfera de influência por um extenso território.
    Um relato do ano 800 diz que a pacífica cidade de Cancuén foi tomada pela violência onde diz-se que uma furiosa invasão fez com que se abandonasse construções inacabadas e outros utensílios pelo chão. Todo ódio dos invasores se concentrou em 31 reféns, provavelmente nobres a julgar pelas joias e adereços, provavelmente parte da família do soberano na cidade Kan Maax. Eles teriam sido levados ao pátio e mortos covardemente com lanças e espadas, por decapitação e empalhamento.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Protejo de Monografia de Gerson Avillez

Abaixo disponibilizo o projeto da Tese de Conclusão de Curso (TCC) do aluno Gerson Machado de Avillez, lembrando que a formatação original pela ABNT fora alterada a fim de melhor adequar-se ao blog.

Tema do Projeto:
A FORMAÇÃO DO ETHOS PELOS MITOS DA LITERATURA

Gerson Machado de Avillez (Turma da Tarde)
FAC-UNILAGOS
Gersonavillez46@hotmail.com

Introdução
Dos livros de Monteiro Lobato aos igualmente infantis de Ziraldo a literatura não somente internacional como a nacional está carregada de mitos que enriquecem não somente a cultura como o cotidiano escolar de crianças em todo pais, indo dos indivíduos ao coletivo, formando o modo de pensar de ambos, influenciando a cultura e a formação da personalidade do indivíduo. Os personagens icônicos destas fábulas vêm do imaginário popular de modo a transmitir a identidade de uma cultura arraigada em elementos populares que foram posteriormente cristalizados pela literatura sob forma de histórias próprias.
Monteiro Lobato é um exemplo de autor o qual utilizando-se dos mitos indígenas criou um vasto panteão mitológico em seus livros contando histórias que envolvessem personagens mitológicos destes povos nativos.
O quão importante isso se torna para a literatura não somente como forma de registro dos mitos como um modo eficaz de transmissão de valores que tornam possível a formação moral dos indivíduos tanto como do Ethos no coletivo. Ainda que no caso dessa literatura a formação seja um feedback construído a partir de uma fonte original de oralidade que são as histórias indígenas isso retorna aos leitores com histórias que transmitem ideias de conduta e comportamento, tais como cooperação e respeito mútuos, o convívio em comunidade e etc.
A identificação com os personagens demonstra uma essencialidade necessária para o qual o leitor possa melhor assimilar os valores transmitidos pelo mesmo de modo que, com a afeição e empatia, o leitor espelhe as ações dos equivalentes personagens da sociedade.
Hoje mais do que nunca isso se faz necessário mediante uma aguda crise de valores cujos elementos como individualismo e egoísmo os acentuam numa relação de unilateralidade, assim como levando a discussões de pertinência crítica a sociedade, estimulando a reflexão e o senso crítico no indivíduo.
A metodologia do estudo será bibliográfica e empírica, sendo a bibliográfica escorada em livros que se debrucem na relação dos mitos e formação moral na literatura como os livros de Marta Morais da Costa enquanto a pesquisa empírica se dará por meio da resposta de questionários por profissionais do ramo e o uso prático da literatura para o mesmo.
Este projeto de pesquisa pretende se desenvolver em três sessões. Na primeira pretendemos abordar o desenvolvimento dos mitos literários nos brasileiros, enquanto no segundo como estes mitos influenciam na formação do Ethos e, por fim, na terceira e última a prática do mesmo pelo docente o qual utiliza-se destas histórias para interceder na formação do Ethos pelo aluno.

Questões norteadoras
Buscando compreender a temática, o presente projeto de pesquisa apresenta como questões norteadoras:
    ● Como se desenvolve os mitos através da literatura brasileira?
    ● Como os mitos de literatura influenciam a formação do Ethos?
    ● Como o professor pode interceder para a formação do Ethos através da literatura?

Objetivo Geral
O Trabalho tem por objetivo levantar críticas e questões pertinentes a importância da leitura escolar para estabelecer um vínculo de relação com a formação não somente da cidadania, mas dos valores que a engloba de modo a ressaltar a importância da moral e cívica correlacionada a leitura da literatura infantil e infanto-juvenil em seu víeis filosófico a despeito da ética nas relações sociais.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Apresentação do Trabalho de Matemática

Terça-feira. dia 21 de junho de 2016 fora o dia da apresentação do trabalho de matemática do professor Ricardo, do curso de pedagogia, onde uma atividade deveria ser desenvolvida para deficientes visuais, veja, abaixo, as fotos.










sexta-feira, 10 de junho de 2016

Resenha: A Revolução dos Bichos

    O afiado humor crítico e irônico de George Orwell (pseudônimo de Eric Arthur Blair) no livro ‘A Revolução dos Bichos’ usa a metáfora perfeita dos animais como transcrição da realidade de regimes totalitários e autoritários ainda que sirva igualmente para ditaduras tanto de direita quanto de esquerda, talvez querendo dizer sem reservas que tais “sistemas” apenas animalizam o homem ao deturpar os valores inerentes a humanidade e a sua subsequente sociedade.

    Os personagens sempre mostrados de modo caricatural pelo autor representam classes econômicas, estereótipos humanos assim como cargos igualmente equivalentes, mas não somente, mostram também tipos de sociedade, éticas onde mesmo o autor possivelmente se encontraria.

    De um lado temos as elites representadas pelos porcos, geralmente gananciosos, hipócritas, tendenciosos e cínicos a medida que são inteligentes. Através deles podemos ver a representação do almejado por seu regime deturpado e opressor ainda que vendido aos bichos como a salvação deles ante a maldade dos homens.

    Garganta, o porco que é porta voz dos suínos parece remeter a sociedade da informação que informa não necessariamente a verdade, mas apenas os interesses dos porcos governantes através de sofismas e mesmo mentiras descaradas como se fosse “o certo” feito por eles.

    Porém, o Burro que seria a personificação irônica do alterego do autor seria uma espécie de resistência ao proferir o conhecimento da verdade sobre tudo que ocorre assim como do conhecimento em si. Sendo assim uma representação da Sociedade do Conhecimento onde não há distorções, enganos e mentiras, nada desejável pelos porcos assim como as elites e ditadores de nosso mundo, a exemplo da Coréia do Norte, o regime mais fechado do planeta o qual informações falsas são divulgadas a todo instante para o povo e, quem ousa enfrentar – e revelar a verdade – corre sério risco de ser morto simplesmente desaparecendo.

    Tais sociedades acompanham suas equivalentes éticas de modo a servir apenas o almejado. No caso dos porcos que criam “leis” para depois modifica-las exclusivamente para justificar seus atos e seu status quo seria nestes casos um exemplo de ética utilitarista de John Stuart Mill ao passo que a sociedade implicitamente defendida pelo Burro representa a ética dever, de Immanuel Kant.

    Ainda que tais éticas cada qual apresentem limitações e defeitos observável perceber que a ética de Kant servem intenções menos egoístas de um grupo ao responder direitos e deveres supostamente de todos com isenção, não sendo o caso das leis dos porcos que, por exemplo, falam em dado momento que “todos os animais são iguais”, mas depois acrescentam que “uns são mais iguais que outros”.

    Isso demonstra a posição de superioridade e privilégios que tais porcos, agora elitizados, colocam a si mesmos ainda que em dado momento contraditoriamente defendam uma meritocracia quando há maiores facilidades para eles ao contrário do cavalo Sansão que literalmente sucumbe de exaustão de tanto trabalhar sem proporcional retribuição, demonstrando um esforço inútil através dos porcos que utilizando-se da sociedade da informação vende notícias que não correspondem a verdade.

    A afiada crítica social – presente não somente nesse livro como em ‘1984’ – parece fazer valer o status de clássico literário ao unir ideias originais e as referidas críticas ao poder corruptor que parecem claras quando o porco Major, antes dos porcos deterem o poder, defendia uma ideologia que em tese era majestosamente adequada a todos para tira-los da submissão sofrida pelos homens, mas que na prática se transforma apenas num perpetuador de iguais aflições quando os porcos conquistam o poder, algo que adequa-se ao Marxismo que em tese seu autor defendeu como exemplo de igualdade de classe para todos mas, na prática, se deturpou a exemplo de Stalin e cia.

    Visível notar, porém, que a crítica apesar de ser amplamente utilizável era originalmente voltada as ditaduras de esquerda ainda que Orwell fosse socialista pois acreditava que os perpetuadores do marxismo não a correspondiam na prática, sendo assim uma degeneração do mesmo.

    O grau de contundência de tal crítica até hoje atual demonstra como o poder corrompe e vicia seus perpetradores de modo a se distorcer do que seria em teoria impressiona por sua precisão ao mostrar padrões em incomum a quase todos que detém o poder. Hoje vemos muitos exemplos daqueles que, sendo mais poderosos, se atribuem privilégios e facilidades que não admite que aqueles considerados “inferiores” igualmente a detenham, criando não somente dicotomias como abismos sociais que fazer crescer uma série de problemas sociais que nunca parecem ter fim.

    A exemplo dos poderosos brasileiros a corrupção antes oculta que vem sendo lentamente mostrada não resiste a luz da exposição de suas provas, ainda que em grande parte permaneça impune pelas posições sociais e econômicas que esses detém enquanto muitos vivem um regime praticamente fechado sem nada terem feito de errado a não ser sofrer a perseguição por tentarem ter justiça social ante aqueles que ditam: “faça o que falo, não faça o que eu faço”.

    Particularmente por causa de livros como estes adquiri uma posição com tendências mais ao anarcopacifismo por notar que, a exemplo do Brasil, a maioria quando alcança o poder se corrompe passando até defender o elitismo para manter seu status quo ante as classes inferiores que tanto sofrem no mundo. Até quando toleraremos tantos porcos quando possuímos o poder de Sansão? A ironia de Orwell ao escolher os porcos para representa-los torna-se evidente e quase ofensiva.

    O Burro defensor do conhecimento assim como Paulo Freire parecia perceber a situação imponderável dos poderosos através da máxima de Freire: "Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser opressor." Isso sucedeu os porcos que alcançaram o topo apenas para perpetrar os mesmos erros de seus antecessores, o homem, para no final eles passarem a andar em duas patas similarmente aos homens demonstrando que apenas estavam se tornando exatamente aquilo que achavam atacar, o mal, pois agora aqueles que também andava sobre duas pernas eram dignos de ser aliados dos animais.

- Orwell, George – A revolução dos Bichos – Ed.Companhia de Letras - 2007